Há 25 anos no dia 26 de Setembro desaparecia um dos grandes escritores portugueses deste século: Ruben A. pseudónimo de Ruben Alfredo Andresen Leitão ficcionista dramaturgo historiador com uma obra repartida por dezenas de volumes do romance ao ensaio passando pela autobiografia conto e novela. A editora Assírio & Alvim que edita a sua obra prepara-lhe uma homenagem no Alto Minho em colaboração com a Câmara de Caminha ao mesmo tempo que sai o V volume de "Páginas" obra de reflexões vivências e impressões várias que o autor de "A Torre da Barbela" foi escrevendo ao longo de anos com o humor fino que o caracterizava e uma criatividade ímpar na forma como jogava com as palavras e os seus sentidos. Os encontros e conversas com os amigos os poetas Ruy Cinatti Pedro Homem de Mello Sophia de Mello Breyner sua prima José Régio Miguel Torga o crítico João Gaspar Simões o "Gaspas" o romancista brasileiro José Lins do Rego a pintora Menez e tantos tantos outros. "Páginas de casa" pelo Minho de Carreço onde comprara a casa do Sargaço a serra d'Arga Afife Viana Ponte de Lima (e a Torre de Barbela em Geraz do Lima onde tomou a decisão de escrever o romance) e também Coimbra Portalegre Porto ou Lisboa ...; "páginas ambulantes" por Londres Oslo ou Roterdão.|Excerto:|"Dia 10. Estou azabumbado. Pedalo dentro da minha cabeça e sai apenas uma bílis de má disposição. A minha vida é um acidente de terreno pouco elevado. Esmigalho-me de vez em meses: é cada notícia que me alquebra os untos. Fico-me por aqui a olhar os bosques por onde caminha o Cavaleiro da Barbela a bordo do seu afamado Vilancete. E sonho nas saudades monstras que tenha da Barbela. Sítio ímpar na Ribeira Lima solar da Torre albergando os mais individualizados de cada século. Quase me apaixono por Madeleine Barbelat que quer perscrutar da virgindade do Cavaleiro antes de regressar a Paris. Depois ingresso novamente na chatice da renda de casa para pagar até ao dia 8 do gás e da electricidade e eu sempre atento a apagar o que se não deve estragar de dinheiro e o telefone a roubar-me por um contador que não está em minha casa sou indefeso imbecil parvo - ainda a água caudalosa a chuvar-me o estremunhamento para não falar no pesadelo constante de padeiro leiteiro carniceiro canalizador. Tudo que é novo em Portugal precisa de ser arranjado então as canalizações já são construídas entupidas de nascença. Há tanto maquinismo de que só fabricamos os abortos. E medito que à borla só tenho o ar e o dentista amigo que é um homem bestial boémio dos tempos de Coimbra são de corpo e alma. Ah! Como eu queria bocejos à beira-mar. Lisboa faz-me vómitos setembrais; é a cidade mais egoísta do Ocidente. Em Lisboa é tudo difícil. Os braços caem-me pelas pernas abaixo e a cabeça de tão inclinada só olha pelos umbigos citadinos. São feios os umbigos portugueses. Têm pouca graça parecem estrelas cadentes. Toda a minha paixão vira-se para umbigos de luxo que me arranquem dessa monotonia de contínuos problemas fiduciários."|Ficcionista e ensaísta português Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu a 26 de maio de 1920 em Lisboa e morreu a 26 de setembro de 1975 em Londres. Formado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra foi docente na área da Língua e Cultura Portuguesas naUniversidade de Londres (1947-1952) tendo sido convidado para desenvolver atividade docente na Universidade de Oxford alguns meses antes da sua morte.|Entre 1954 e 1972 foi funcionário da Embaixada do Brasil em Lisboa. Estudioso de D. Pedro V tendo procedido à edição dedocumentos de governação e correspondência inédita do monarca foi ainda autor de vários verbetes no|Dicionário de História de Portugal| dirigido por Joel Serrão. Integrou em 1972 o Conselho de Administração da Imprensa Nacional-Casa da Moeda no domínio da qual foi responsável poruma importante atividade de edição. Colaborou com algumas publicações periódicas tendo por exemplo redigido inúmeras recensões críticas na secção de "Livros escolhidos" no|Diário Popular| entre 1963 e 1974. Estreou-se em 1949 com|Páginas| uma obra híbrida misto de diário e de ficção cujo sexto volume seria editado em 1970. Chocando pela mordacidade pela irreverência linguística e pela desconstrução dos eixos narrativos tradicionais estreara-se entretanto na novelística com o romance|Caranguejo| publicado em 1954 a que se seguiria em 1965 um dos seus maioressucessos |A Torre da Barbela|(prémio Ricardo Malheiros) obra que sobrepõe num delírio verbal apostado na caricatura da psicologia portuguesa várias épocas da História da nacionalidade. A segunda metade da década de 60 será marcada pela publicação dos três volumes autobiográficos:|O Mundo à Minha Procura|. Em 1973 publicou a sua última obra a novela|Silêncio para 4| deixando inédito o romance de inspiração histórica Kaos. A obra vasta de Ruben A. incide particularmente sobre dois tipos de registos literários: a ficção autobiográfica e a ficção histórica. Num longo itineráriode conhecimento da existência através do ato de escrita seja no registo diarístico seja ficcional seja histórico Ruben A. é um dos autores que partindo da fratura da identidade operada por Fernando Pessoa ou por Mário de Sá-Carneiro mais recorrentemente problematizam odesdobramento do eu numa reflexão que culminaria com obras como|O Outro que Era Eu| uma introspeção sobre o "processo de desintegração do eu abandonado à sensação de "embarcar no Outro" até ao acontecimento insólito de "integração total de um ser em outro" enquanto sinónimode uma "nova era". Este projeto de busca de si mesmo alcança em obras como|A Torre de Barbela e Kaos| uma dimensão de busca da identidade coletiva que pela subversão cronológica se posiciona como crítica irónica e surrealizante a uma certa forma de ser português. Pouco conhecidocomo autor dramático Ruben A. é autor de uma peça em dois atos |Júlia| publicada em 1963 onde segundo Luiz Francisco Rebello (cf.|100 Anos de Teatro Português|(1880-1980) Porto ed. Brasília 1984 p. 35) "é notória a influência do moderno teatro inglês em geral e de T. S. Eliot emparticular" tendo ainda deixado alguns textos inéditos como a peça em um ato|Triálogo|.
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